quarta-feira, 23 de novembro de 2011

EMPOBRECIMENTO







(Comentário ao Orçamento de Estado de 2012)

EMPOBRECIMENTO

Na Central de Camionagem
Nem riem os namorados,
A tristeza é a bagagem
Em fardos muito pesados.
Os homens passam sisudos,
Mulheres de caras sofridas,
Até os putos vão mudos
E as moças vão mal vestidas.
Os velhos vão desistir
Duma aprazada viagem,
Com os preços a subir
Os sonhos vão na voragem
Entopem as bilheteiras,
Já se contam os tostões,
Não há dinheiro nas carteiras
Foi para o cofre dos ladrões.
Altifalantes calados
Para não gastar energia,
Os passes foram cortados,
Descontos uma razia.
Suprimiram os horários
Por falta de segurança,
Rasgaram os calendários
Para sufocar a esperança.
Camionetas deprimidas
Estão de regresso à garagem
De paredes encardidas
O chão a pedir lavagem.
Voltas «apagada e vil
Tristeza», como lamento!
Em vez da «Pátria de Abril»
Portugal do sofrimento.

Novembro de 2011(Carlos Brito)

Enviado por: Sérgio Ribeiro

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Poema de Joaquim Pessoa

Poema de Joaquim Pessoa - Absolutamente recomendável:


Poema de agradecimento à corja

Obrigado, excelências.
Obrigado por nos destruírem o sonho e a oportunidade de vivermos felizes e em paz.
Obrigado pelo exemplo que se esforçam em nos dar de como é possível viver sem vergonha, sem respeito e sem dignidade.
Obrigado por nos roubarem. Por não nos perguntarem nada. Por não nos darem explicações. Obrigado por se orgulharem de nos tirar as coisas por que lutámos e às quais temos direito. Obrigado por nos tirarem até o sono. E a tranquilidade. E a alegria.
Obrigado pelo cinzentismo, pela depressão, pelo desespero.
Obrigado pela vossa mediocridade. E obrigado por aquilo que podem e não querem fazer. Obrigado por tudo o que não sabem e fingem saber.
Obrigado por transformarem o nosso coração numa sala de espera.
Obrigado por fazerem de cada um dos nossos dias um dia menos interessante que o anterior. Obrigado por nos exigirem mais do que podemos dar.
Obrigado por nos darem em troca quase nada.
Obrigado por não disfarçarem a cobiça, a corrupção, a indignidade. Pelo chocante imerecimento da vossa comodidade e da vossa felicidade adquirida a qualquer preço. E pelo vosso vergonhoso descaramento.
Obrigado por nos ensinarem tudo o que nunca deveremos querer, o que nunca deveremos fazer, o que nunca deveremos aceitar.
Obrigado por serem o que são.
Obrigado por serem como são. Para que não sejamos também assim. E para que possamos reconhecer facilmente quem temos de rejeitar.
Joaquim Pessoa ---------------------------------------------------
Joaquim Pessoa nasceu no Barreiro em 1948. Iniciou a sua carreira no Suplemento Literário Juvenil do Diário de Lisboa. O primeiro livro de Joaquim Pessoa foi editado em 1975 e, até hoje, publicou mais de vinte obras incluindo duas antologias. Foram lhe atribuídos os prémios literários da Associação Portuguesa de Escritores e da Secretaria de Estado da Cultura (Prémio de Poesia de 1981), o Prémio de Literatura António Nobre e o Prémio Cidade de Almada. Poeta, publicitário e pintor, é uma das vozes mais destacadas da poesia portuguesa do pós 25 de Abril, sendo considerado um "renovador" nesta área. O amor e a denúncia social são uma constante nas suas obras, e segundo David Mourão Ferreira, é um dos poetas progressistas de hoje mais naturalmente de capazes de comunicar com um vasto público. Bibliografia: "O Pássaro no Espelho", "A Morte Absoluta", "Poemas de Perfil", "Amor Combate", "Canções de Ex cravo e Malviver", "Português Suave", "Os Olhos de Isa", "Os Dias da Serpente", "O Livro da Noite", "O Amor Infinito", "Fly", "Sonetos Perversos", "Os Herdeiros do Vento", "Caderno de Exorcismos", "Peixe Náufrago", "Mas.", "Por Outras Palavras", "À Mesa do Amor", "Vou me Embora de Mim".

Nela