O economista belga elege a Alemanha como o maior perdedor com o fim da zona euro
Paul de Grauwe:
Paul de Grauwe:
"Os portugueses é que estão a pagar aos alemães"
Paul de Grauwe chama incompetente ao BCED.R.31/12/2011 00:00 Dinheiro Vivo
Paul de Grauwe tem uma visão diferente da crise da zona euro. São os contribuintes portugueses que estão a dar dinheiro aos alemães e não o contrário. Professor de Economia Internacional da Universidade Católica de Lovaina e conselheiro da Comissão Europeia, admite que Portugal nunca beneficiou realmente com o euro, mas desaconselha uma saída. Para o BCE não tem meias-palavras: ou são incompetentes ou estão a ser guiados por objectivos obscuros.
Em um ano, a zona euro estará mais integrada ou perto da separação?
Paul de Grauwe chama incompetente ao BCED.R.31/12/2011 00:00 Dinheiro Vivo
Paul de Grauwe tem uma visão diferente da crise da zona euro. São os contribuintes portugueses que estão a dar dinheiro aos alemães e não o contrário. Professor de Economia Internacional da Universidade Católica de Lovaina e conselheiro da Comissão Europeia, admite que Portugal nunca beneficiou realmente com o euro, mas desaconselha uma saída. Para o BCE não tem meias-palavras: ou são incompetentes ou estão a ser guiados por objectivos obscuros.
Em um ano, a zona euro estará mais integrada ou perto da separação?
É difícil saber. Estamos perante uma bifurcação. Podem acontecer duas coisas: uma implosão completa, com recessão e crises bancárias, ou os Estados membros e o BCE decidem fazer o mais correcto e evitam o colapso. Sou optimista; acredito no segundo cenário, mas não excluo o outro.
Mas o fim do euro é plausível?
Mas o fim do euro é plausível?
A zona euro continua frágil e pode desintegrar-se, mas temos os meios para o evitar. Tudo depende do empenho de quem está no poder. Se colapsar é porque as pessoas em posições-chave o quiseram.
Algum país beneficiaria com isso?
Algum país beneficiaria com isso?
Não. No longo prazo, talvez. Países como a Grécia poderiam desvalorizar a moeda, o que estimularia a economia. Mas seria muito disruptivo, principalmente para a banca. No curto e médio prazo, ninguém beneficiaria.
Nem a Alemanha?
Nem a Alemanha?
Países como a Alemanha seriam os verdadeiros prejudicados. Essas economias beneficiaram antes da crise, com a acumulação de excedentes externos e forte crescimento. Durante a crise têm sido os que mais ganham. Estão a endividar-se quase de graça. A Alemanha pede emprestado de graça e depois empresta-vos, com um bom lucro, não é? Na Alemanha ouve-se que os contribuintes pagam aos portugueses, mas é o contrário. Os portugueses é que pagam aos alemães. Se tudo colapsar, perderão imenso.
Portugal continua a beneficiar por estar na zona euro?
Portugal continua a beneficiar por estar na zona euro?
Não sei se alguma vez beneficiou verdadeiramente. No futuro, Portugal poderá viver com a sua própria moeda, mas vai ser difícil passar desta situação para uma divisa própria. O problema é a transição. Será muito traumático e imprevisível. Não sei se seria boa ideia fazê-lo agora.
É inevitável reestruturar a dívida?
É inevitável reestruturar a dívida?
Não acho que seja inevitável como na Grécia. Portugal é um país honesto, apesar de ter muitos problemas. Depende das perspectivas de crescimento. Se houver crescimento, não é preciso reestruturar. Por agora, não teriam vantagem em negociar a dívida.
Temos um programa de austeridade muito exigente. É o caminho certo?
Temos um programa de austeridade muito exigente. É o caminho certo?
É demasiado intenso e duro. Se Portugal o fizesse sozinho talvez resultasse, mas com a Espanha, Itália e França a fazê-lo é muito difícil e não resulta. Além disso, a queda do PIB faz aumentar o rácio de dívida, o que torna os mercados mais nervosos e leva a uma maior pressão deflacionária.
Passos disse que os portugueses têm de empobrecer. Concorda?
Passos disse que os portugueses têm de empobrecer. Concorda?
É totalmente errado. Os portugueses têm de gastar e aumentar a produção. Reduzir o consumo sem aumentar a produção é empobrecer. A pobreza depende da capacidade produtiva.
Que alternativas deveriam ser seguidas pela Europa?
Que alternativas deveriam ser seguidas pela Europa?
Bruxelas devia anunciar a extensão dos programas de emergência devido à recessão. Países como a Alemanha e a Holanda deviam interromper a austeridade e estimular o consumo privado, para que os países do Sul consigam sair da crise. Falta vontade ao Norte da Europa para aumentar a despesa. Os países com défices têm de ser ajudados pelos que têm excedentes.
As eurobonds são algum tipo de alternativa ou um pormenor?
As eurobonds são algum tipo de alternativa ou um pormenor?
Não são uma alternativa nem vão resolver a crise. Contudo, no longo prazo, é importante que sejam criadas para assinalar aos mercados o comprometimento com um projecto. Todos entendem que tem de haver união orçamental e as eurobonds são o primeiro passo nesse sentido.
O Banco Central Europeu (BCE) tem de ter um papel diferente?
O Banco Central Europeu (BCE) tem de ter um papel diferente?
Sim. Deve ser um credor de último recurso no mercado de obrigações. O BCE está a dar centenas de milhões de euros aos bancos sem preocupações de "risco moral" e não o faz com obrigações soberanas devido a esse mesmo risco. Se não se resolver a crise da dívida, dar liquidez aos bancos é tentar encher um balde furado. Atacar o problema na fonte seria muito mais eficaz. Infelizmente, o BCE não pensa assim, o que é inexplicável. Estão a ser guiados por questões dogmáticas, em vez de práticas. Só resolvendo a crise se salvam os bancos.
A preocupação do BCE com a inflação está a ir longe de mais?
A preocupação do BCE com a inflação está a ir longe de mais?
Que fazem os bancos com a liquidez do BCE? A última coisa que querem é aumentar o crédito; estão a acumular reservas porque têm medo. Não há risco de inflação porque a liquidez fica nos bancos: é pressão zero. É a incompetência completa. Não sabem o que se passa - ou têm objectivos obscuros.
Mario Draghi pode trazer uma perspectiva diferente ?
Mario Draghi pode trazer uma perspectiva diferente ?
Ele é uma esfinge: fala, mas não sei o que ele pensa. São puzzles. Sei é que está cheio de medo dos alemães.
Enviado por Sérgio Ribeiro
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