quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Foi há 49 anos o início da luta armada pela independência de Angola

Na madrugada do dia 4 de Fevereiro de 1961, um grupo de africanos ataca a Casa de Reclusão e a Cadeia de S.Paulo, para libertarem os presos políticos ali encarcerados. Sete polícias portugueses e muitos dos atacantes são mortos nesta acção. Na sequência dos acontecimentos, formam-se grupos de "voluntários"encarregados de exercer violência indiscriminada sobre a população negra. Calcula-se que tenham sido mortos cerca de 400 negros durante este período. Um mês depois, a 15 de Março, nas roças de café ao norte, populações Bakongo e alguns trabalhadores contratados revoltam-se, matando brancos e assimilados. Muitas populações, instalações administrativas e postos da polícia são queimados, as estradas bloqueadas, pontes destruidas. Entre os portugueses há cerca de 500 mortos. Os militares e colonos portugueses respondem a este levantamento com uma repressão violenta, que faz dezenas de milhar de mortos, milhares de fugitivos e cerca de 200.000 refugiados no Congo-Léopoldville, até ao fim de 1961. Estas rebeliões dos povos africanos faziam parte da forte corrente anticolonialista dos fins dos anos 50 e início dos anos 60. Em Junho de 1960 houvera uma detenção de vários activistas políticos em cidades importantes, incluindo Luanda. Em Julho, do mesmo ano, 30 pessoas foram mortas e 200 feridas em Catete, a menos de 100 Kms. de Luanda, quando protestavam pela prisão do Dr.Agostinho Neto, dirigente do MPLA. E muitas outras chacinas e perseguições tiveram lugar antes do dia 4 de Fevereiro de 1961. As manifestações e rebeliões reflectiam o ressentimento que negros e mestiços sentiam sob o domínio português, e eram inspiradas pelos movimentos nacionalistas que grassavam por todo o continente africano e pelos acontecimentos ocorridos no Congo Belga. As independências sucediam-se no Oriente e em África - India em 1947, Indonésia em 1944, Senegal, Nigéria, Congo Belga e Congo Francês em 1960. Salazar manteve-se autoritário e surdo aos rumores e protestos dos povos escravizados de África, não quis entender a fermentação independentista que se iniciara. Era um regime próximo do da Espanha de Franco e semelhante aos fascismos italiano e alemão. A economia das possessões portuguesas em África era uma economia colonial primitiva fundada na exploração de uma mão de obra semi-escravizada e na extracção de matérias-primas abundantes, dominada pelos mesmos grupos que dominavam na metrópole, associados de grandes consórcios internacionais, como o norte-americano Gulf-Oil, Trust Krupp e Diamang - grupos/família Espírito Santo, Fonsecas e Burnay, Mellos, Champalimaud, Quina, Vinhas, Abecassis ou Sousa Lara, que nas colonias esmagavam a dignidade humana e profissional dos autóctones com o "Estatuto do Indígena" e o "Código do Trabalho Indígena Rural", o primeiro a recusar a cidadania portuguesa à grande maioria da população, que é considerada indígena; o segundo, a apontar para uma forma matizada de escravatura, criando legiões de "contratados" sujeitos a trabalho forçado e a uma sobre-exploração neo-esclavagista, em que massacres como o da Baixa do Cassange, em Janeiro de 1961, chacina milhares de apanhadores de algodão, que o regime silenciou. Salazar parecia não se preocupar com o iminente romper da guerrilha, da qual recebe, contudo, diversos sinais. A rebelião de 4 de Fevereiro, que marca o início da luta armada em Angola, é coincidente com a expectativa da chegada de Henrique Galvão e do paquete Santa Maria, que tinha sido desviado para provocar a queda de Salazar. "Orgulhosamente só", os governos fascistas de Salazar e Caetano fizeram a guerra que, segundo João Paulo Guerra, no seu livro Descolonização Portuguesa, levou a que as Forças Armadas, ao longo de 13 anos, incorporassem e mobilizassem 820.000 jovens portugueses, num quadro que revela números como: 8.831 mortos, 30.000 feridos, perto de 15.000 deficientes e mutilados, sendo também uma das causas que deram origem à emigração de milhares de jovens e suas famílias, o grande número para França, que entre 1960 e 1974 foi o destino de cerca de 1.524.000 portugueses, cerca de 80% "a salto". Registe-se ainda a sangria nas finanças públicas, já que ao longo destes mesmos anos as despesas com a guerra constituíram, em média, 43% das despesas públicas, chegando a atingir 55 por cento em 1969. E estes são os números do lado português, porque do lado dos países colonizados a estatística é ainda mais dantesca. A guerra atrasou o desenvolvimento do país em décadas. Para homens que sonharam a descolonização, guiando-se pelos princípios internacionalmente consagrados e aceites do direito dos povos à autodeterminação e independência, a surdez do fascismo aos ventos da história representa um crime, cuja memória não podemos deixar apagar.



1 comentário:

  1. Ainda hoje sofro aquela maldita guerra em que o fascismo de salazar nos meteu. Vivo de medos, de sombras, de dor...

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