domingo, 20 de junho de 2010

Morreu José Saramago - 1922 a 2010 -


Antes eu dizia: 'Escrevo porque não quero morrer'. Mas agora mudei. Escrevo para compreender. >O que é um ser humano?" (José Saramago)


MORREU JOSÉ SARAMAGO - PRÉMIO NOBEL PORTUGUÊS DA LITERATURA

A morte de José Saramago deixou mais pobre o universo literário de Portugal e do Mundo.
Detentor de uma vasta obra, reconhecida internacionalmente, Saramago foi obrigado a "exilar-se" de Portugal, após a publicação do seu romance " O Evangelho Segundo Jesus Cristo", em 1991.
Na verdade, em 1993, depois de uma arrastada polémica provocada pela ignorância (que é sempre atrevida) e a "incultura" do então sub-secretário de Estado da Cultura, Sousa Lara, que ousou excluir o livro da lista de candidatos ao Prémio Literário Europeu, o escritor português abandona o seu país para fixar residência na ilha de Lanzarote – Canárias (Espanha), onde viveu até hoje.
Escritor polémico quer pelas temáticas tratadas quer pelo estilo formal que é uma marca distintiva de grande parte do seu "corpus" literário, José Saramago, galardoado com o Prémio Nobel da Literatura, em 1998, foi sempre um antifascista e um lutador pela liberdade.
Assumidamente militante do PCP, o escritor não se "castrava" nos actos de análise e de reflexão, manifestando, por vezes, opiniões discordantes da matriz do seu Partido.
José Saramago morreu... mas a sua obra, porque universal, continuará eterna.
Espero que o Povo Português, completamente extasiado e anestesiado com a droga de momento - Mundial de Futebol - não se esqueça de o "chorar" e de lhe prestar a devida homenagem.
Amanhã pode já ser tarde! ... e a História nos julgará.


Lua Cunha






ALGUNS DADOS BIOBLOGRÁFICOS DO PRÉMIO NOBEL DA LITERATURA PORTUGUÊS

Ribatejano de nascimento, Azinhaga foi seu berço, José Saramago é oriundo de uma família que vivia do seu trabalho para sobreviver.
Acompanhando a família que se deslocou para Lisboa em 1924, tinha o escritor apenas dois anos, viveu sempre uma vida simples e modesta. Interessado pelos estudos e pelo conhecimento, fez a sua formação numa Escola Técnica, porque os parcos recursos familiares não lhe permitiram o acesso à Universidade.
Tendo começado a trabalhar como serralheiro mecânico, os livros eram uma presença constante no seu quotidiano e as bibliotecas locais de culto praticamente todas as noites.
Já trabalhando na Função Pública, em 1947, publica o seu primeiro romance “Terra do Pecado”, e dezanove anos mais tarde, enquanto funcionário da Editorial Estudos Cor, edita as obras poéticas “Os Poemas Possíveis”, “Provavelmente Alegria” (1970) e, em 1975, “O Ano de 1993”.
Sai da Editorial Estudos Cor e passa a ser colaborador do Jornal “Diário de Notícias”e, mais tarde, no “Diário de Lisboa”.
Retomando, em 1975, a colaboração com o Diário de Notícias, é nomeado director-adjunto, cargo que exerce durante dez meses… momento em que os militares responsáveis pelo golpe de direita de 25 de Novembro, tentam controlar o Jornal, considerando que tinha uma linha editorial defensora daquilo que consideravam os excessos do PREC e da Revolução.
Demitido como muitos outros funcionários, Saramago, sentindo-se “violado” na sua liberdade de expressão, passa a dedicar-se apenas à ficção literária, abandonando, definitivamente a arte jornalística. "(…) Estava à espera de que as pedras do puzzle do destino – supondo-se que haja destino, não creio que haja – se organizassem. É preciso que cada um de nós ponha a sua própria pedra, e a que eu pus foi esta: "Não vou procurar trabalho", disse Saramago, em 1988, numa entrevista à revista Playboy.
Disse-o e em boa hora o fez.
Na verdade, tomada a decisão, e trinta anos depois da publicação do romance “Terra do Pecado”, José Saramago entrega-se de novo ao universo ficcional, publicando “Manual de Pintura e Caligrafia” que ainda não definem um estilo próprio. Esse estilo vai espelhar-se na sua obra “Levantado do Chão” , publicado em 1980, através da retratação empenhada e comprometida da miséria e das privações a que foram sujeitas as populações pobres do Alentejo.
Em 1982, a consagração do autor é inevitável. O seu romance “Memorial do Convento”, situado no tempo histórico do reinado de D. João V, “abana” o universo intelectual português e o espaço da recensão crítica literária… e rapidamente é envolvido pelos leitores, mesmo os menos afoitos.
Até 1991, o autor oferece-nos mais quatro romances, todos eles questionando a interpretação oficial da História: “O Ano da Morte de Ricardo Reis” (1984) – narra as deambulações de Ricardo Reis por Lisboa; “A Jangada de Pedra” (1986) – cuja trama coloca a Península Ibérica ao “desvario”, navegando, qual jangada sem norte, pelo Oceano Atlântico, depois de se soltar do resto da Europa; “História do Cerco de Lisboa” (1989) – aborda a tentação de um revisor introduzir uma palavra - "não"- no texto histórico que corrige, alterando-lhe completamente o sentido; e “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” (1991) - onde o livro sagrado é reescrito sob a óptica de um Cristo humanizado.
Iniciando uma nova fase, Saramago escolhe os meandros da contemporaneidade como espaço e tempo das tramas da sua ficção e publica, entre 1995 e 2005, mais seis romances: “Ensaio Sobre a Cegueira “(1995); “Todos os Nomes” (1997); “A Caverna” (2001); “O Homem Duplicado” (2002); “Ensaio Sobre a Lucidez” (2004); e “As Intermitências da Morte” (2005).
O seu último romance “Caim” foi, de novo, alvo de grande polémica com os sectores mais conservadores da Igreja, incapazes de observarem o Mundo à luz da modernidade e da verdade. A isso, o autor respondeu, apesar de já bastante doente, com toda a sua sabedoria e convicção.
Durante esta fase de intensa e profícua produção e publicação, o escritor português vê, finalmente, reconhecida a sua obra, com a atribuição do Prémio Camões, em 1995, e, mais tarde, do mais importante prémio de Literatura – o Prémio Nobel, da Academia Sueca – em 1998. Ano em que ficou definitivamente para a História.
Muitas outras obras, neste texto não referidas, foram escritas pelo autor, abrangendo quase todas as tipologias literárias: poesia, romance, conto, texto dramático, crónica literária, entre outras.
Algumas das suas obras foram adaptadas para o cinema, das quais destacamos: “Jangada de Pedra”, pelo realizador holandês George Sluizer; “Ensaio sobre a Cegueira” pelo reconhecido realizador brasileiro Fernando Meireles; “Embargo”(conto inserto no livro “Objecto Quase”) pelas mãos de António Ferreira, “A Maior Flor do Mundo”, uma curta animação da responsabilidade de Pablo Etcheberry.
José Saramago morreu, hoje, em Lanzarote, com 87 anos, deixando a Literatura de luto…
Dificílimo acto é o de escrever, responsabilidade das maiores.(…) Basta pensar no extenuante trabalho que será dispor por ordem temporal os acontecimentos, primeiro este, depois aquele, ou, se tal mais convém às necessidades do efeito, o sucesso de hoje posto antes do episódio de ontem, e outras não menos arriscadas acrobacias(…)


— Saramago, A Jangada de Pedra, 1986


Lua Cunha
Fonte: Google

4 comentários:

  1. As injustiças causadas a José Saramago, felizmente não afectaram a GRANDEZA da sua obra nem a grandeza do Homem !
    Obrigada

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  2. Os eleitos da CDU, da Assembleia de freguesia de Oliveira S. Mateus, apresentaram um "Voto de Pesar", na reunião da Assembleia de 25 de Junho de 2010, pela morte do escritor José Saramago, com o seguinte teor:

    Considerando que a estatura de José Saramago, bem como a sua vida e obra, são figuras incontornáveis da cultura Portuguesa, e representam o reconhecimento, aquém e alem fronteiras da nossa língua e da nossa cultura, pois como alguém disse, José Saramago, era um mago da palavra, entendemos, aqui e agora numa singela homenagem, manifestar o nosso mais profundo pesar pelo seu desaparecimento, na certeza de que a língua Portuguesa, ficou muito mais pobre.

    Considerando ainda, a perda irreparável, para o Pais em particular e para o Mundo em Geral, a morte de José Saramago, como o demonstra a sua imensa obra e o seu reconhecimento Internacional, com a atribuição do prémio Nobel da Literatura, é de lamentar também o desaparecimento do Homem, pois para alem de ser uma figura polémica e por vezes controversa, José Saramago era um homem com princípios e de palavra, e, ao contrário de muitos políticos de algibeira da nossa praça, sempre se manteve fiel aos seus princípios e ideais políticos, e que teve a coragem de dizer através da escrita, aquilo que muitos sentem, mas que a tal nunca se atreveram.

    Os eleitos da Coligação Democrática Unitária com assento na Assembleia de Freguesia de Oliveira S. Mateus, vêm propor a esta Assembleia de Freguesia, a aprovação de um voto de pesar, pelo falecimento do enorme escritor e poeta José Saramago.

    Francisco Dias Adão Coelho

    Oliveira S. Mateus, 2010/06/25

    OBS: Aprovado por Unanimidade.

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  3. Adão Coelho,
    É com grande satisfação que tomo conhecimento do voto de pesar, pela morte de José saramago, que os eleitos pela CDU na Asembleia de Freguesia de Oliveira de S.Mateus propuseram e conseguiram aprovar por unanimidade.
    Militante do PCP (mesmo que não calando as suas divergências) e defensor incontornável dos mais desfavorecidos, a sua obra, de uma forma ou de outra, é um legado de um Povo que viveu uma feroz ditadura; de um Povo que ladeou, sem hesitações, os Cravos de Abril... Povo esse que enfrenta, hoje, o mais feroz ataque aos direitos e às regalias conquistadas com a Revolução.
    Estou certa que a grandeza e universalidade da obra do escritor José Saramago e a sua nobreza de carácter impedirão que "morra"... mantendo-o sempre vivo, junto de nós.

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