AS DECLARAÇÕES XENÓFOBAS DE PAULO PORTAS
"Quem trabalha paga mais impostos e quem não quer trabalhar recebe mais subsídios" afirmou recentemente Paulo Portas. É esta imagem que se tem do pobre, a de alguém que não quer trabalhar?
Perante as recorrentes declarações de Paulo Portas/CDS, demonstrativas de uma mentalidade atávica que nos faz lembrar tempos remotos(mas próximos), entendemos postar, com ligeiras alterações, um excerto de um artigo publicado no jornal “Le Monde Diplomatique” de Maio (versão portuguesa), estando certos de que o mesmo desmistifica o carácter xenófobo que subjaz às “trovoadas” paulistas/centristas.
Nestes tempos neo-liberais, os poderes financeiros, que ninguém elegeu, pressionam as economias, com juros elevadíssimos, e criam dificuldades que, por sua vez, levam os Estados a aceitarem as medidas de ajustamento orçamental tendentes a cortar prestações sociais e investimentos públicos e a reforçar os lucros e os poderes do sistema financeiro.
É preciso acalmar os mercados, dizem os governantes. Aparecer com uma frente nacional unida, não mostrar divergências nem hesitação nas escolhas, apelando-se a uma espécie de «salvação nacional», em nome do interesse supremo do país.
Assistimos, então, à utilização nos discursos políticos, no comentário e no jornalismo de um vocabulário de guerra que não tem apenas o efeito de denunciar o ataque especulativo, de resto bem real, mas também acaba por abrir caminho à criação de um ambiente de guerra em que o imperativo da defesa facilita a imposição de consensos que tendem a beneficiar os mais fortes e mais bem equipados para a sobrevivência e a desprezar (a sacrificar) os sectores mais frágeis, tanto em termos geográficos como sociais.
Quando se instala uma mentalidade de guerra, não se dá a mesma atenção a todas as dimensões que ela tem, a todos os danos que causa nas diferentes vítimas. As retóricas belicistas, além de mobilizarem para a aniquilação do inimigo, prevêem baixas nas próprias forças em combate e admitem danos colaterais (os que são inadvertidamente infligidos contra pessoas ou estruturas não-combatentes). Mas falam também de uma outra categoria, essa a que o exército norte-americano se refere como friendly fire, ou «fogo amigo», o fogo contra as próprias forças que pode ocorrer quando se está a responder a um ataque do inimigo e que resulta em ferimentos ou morte.
Se se quiser olhar para esta fase da crise que estamos a viver recorrendo a palavras nascidas da guerra, então vale a pena observar esta curiosa categoria, paradoxo dos paradoxos e epítome dos absurdos e injustiças da guerra. Talvez o “fogo amigo” não esteja muito distante das decisões políticas que pretendem responder à crise mas atingem os cidadãos, apanhados pela destruição do Estado social quando, com toda a legitimidade dada pela sua carreira contributiva, a ele precisam de recorrer em situação de desemprego. Talvez seja até a melhor das hipóteses, por estranho que pareça, comparar os cortes nas prestações sociais actualmente em curso em países como Portugal a essa categoria vinda da guerra que é o “fogo amigo”. Porque a alternativa, a levar a sério alguns discursos que por vezes se ouvem sobre a «moralização» e os «incentivos» ao trabalho, poderia ter de passar por analogias com acções de natureza disciplinadora, deliberadamente infligidas como castigo. E aí a guerra é outra.
Fonte: Artigo do Le Monde Diplomatique – Maio (versão portuguesa)
Lua Cunha
Esses Paulos Portas e não só, defensores de posições verdadeiramente xenófobas e mesmo fascizantes(eufemismo)falam de barriga cheia.
ResponderEliminarNa verdade,é de um atrevimento sem limites afirmar-se que os detentores do rendimento social de inserção ou dos miseráveis subsídios de desemprego não querem trabalhar... e que preferem ficar na cama ou no café a viver à custa dos contribuintes.
Enquanto portuguesa, até ver ainda com trabalho, (sou professora contratada há 12 anos... bom exemplo dado pelo Estado ao sector privado), sinto-me escandalizada e mesmo humilhada com este tipo de afirmações... que serve, de forma sublime, a campanha galopante que estes governos têm vindo a perpetrar contra os mais desfavorecidos.
E, Alfredo Bruto da Costa, Presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, tem vindo, desde há muito, a desmitificar esta análise perversa, apresentando números e dados comprovativos do aumento do fosso entre os muito poucos cada vez mais ricos e a maioria da população mundial cada vez mais pobre. Milhões de pessoa por este mundo fora vivem com menos de um euro por dia. Esta é que é a realidade. Uma realidade "doente" a que não podemos fechar os oalhos.
Para se perceber como, nesta selva neo-liberal, onde a hipocrisia campeia, os desfavorecidos são ostracizados e responsabilizados pela sua pobreza, aconselho a leitura do ensaio "Horror Económico" da autoria de Vivianne Forrester.
Como afirma a autora, aos desfavorecidos não basta terem nascido pobres e sem possibilidades de abandonarem esse charco de pobreza.
Os detentores do capital ainda os responsabilizam por esse berço de trapos gastos e rotos e, encostando-os o mais possível para fora do "asfalto", nem os querem ver.
MAS O MUNDO VAI MUDAR... E NÃO O AFIRMO POR UMA QUESTÃO DE FÉ, MAS POR UMA QUESTÃO DE ANÁLISE.
Peço desculpa ao João Martins por ter utilizado o comentário que fiz a um artigo da sua autoria, postado no seu blog Macloulé.
Esses Paulos Portas e não só, defensores de posições verdadeiramente xenófobas e mesmo fascizantes(eufemismo)falam de barriga cheia.
ResponderEliminarNa verdade,é de um atrevimento sem limites afirmar-se que os detentores do rendimento social de inserção ou dos miseráveis subsídios de desemprego não querem trabalhar... e que preferem ficar na cama ou no café a viver à custa dos contribuintes.
Enquanto portuguesa, até ver ainda com trabalho, (sou professora contratada há 12 anos... bom exemplo dado pelo Estado ao sector privado), sinto-me escandalizada e mesmo humilhada com este tipo de afirmações... que serve, de forma sublime, a campanha galopante que estes governos têm vindo a perpetrar contra os mais desfavorecidos.
E, Alfredo Bruto da Costa, Presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, tem vindo, desde há muito, a desmitificar esta análise perversa, apresentando números e dados comprovativos do aumento do fosso entre os muito poucos cada vez mais ricos e a maioria da população mundial cada vez mais pobre. Milhões de pessoa por este mundo fora vivem com menos de um euro por dia. Esta é que é a realidade. Uma realidade "doente" a que não podemos fechar os oalhos.
Para se perceber como, nesta selva neo-liberal, onde a hipocrisia campeia, os desfavorecidos são ostracizados e responsabilizados pela sua pobreza, aconselho a leitura do ensaio "Horror Económico" da autoria de Vivianne Forrester.
Como afirma a autora, aos desfavorecidos não basta terem nascido pobres e sem possibilidades de abandonarem esse charco de pobreza.
Os detentores do capital ainda os responsabilizam por esse berço de trapos gastos e rotos e, encostando-os o mais possível para fora do "asfalto", nem os querem ver.
MAS O MUNDO VAI MUDAR... E NÃO O AFIRMO POR UMA QUESTÃO DE FÉ, MAS POR UMA QUESTÃO DE ANÁLISE.
Peço desculpa ao João Martins por ter utilizado o comentário que fiz a um artigo da sua autoria, postado no seu blog Macloulé.