segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Há 73 anos nasceu Ary dos Santos, poeta de Lisboa e do seu povo, de Portugal e de Abril


José Carlos Ary dos Santos nasceu em Lisboa no dia 7 de Dezembro de 1936 e faleceu no dia 20 de Janeiro de 1984. Os seus poemas e canções foram instrumentos de combate e armas indispensáveis na luta pela construção do futuro. O turbilhão de talento e de criatividade que foi a sua vida é irreproduzível e está ainda por publicar o trabalho que fará justiça à genialidade da sua obra multifacetada. A "Liturgia do Sangue", considerada uma das suas melhores obras, marca a sua estreia como poeta em 1963. É o poema homónimo que dá o título à obra: "Caminharemos de olhos deslumbrados/ E braços estendidos/ E nos lábios incertos levaremos/ O gosto a sol e a sangue dos sentidos./ Onde estivermos, há-de estar o vento/ Cortado de perfumes e gemidos./ Onde vivermos, há-de ser o templo/ Dos nossos jovens dentes devorando/ Os frutos proibidos./ No ritual do verão descobriremos/ O segredo dos deuses interditos/ E marcados na testa exaltaremos/ Estátuas de heróis castrados e malditos." O ano de 1969 traz profundas alterações à vida de Ary dos Santos. Publica novo livro Insofrimento in Sofrimento, livro de que dirá mais tarde ter sido o primeiro verdadeiramente revolucionário. Grava o seu primeiro disco, Adereços, Endereços, onde declama poemas publicados no livro com o mesmo nome. É também nesse ano que, em parceria com Nuno Nazareth Fernandes, concorre pela primeira vez ao Festival RTP da Canção, com Desfolhada, interpretada por Simone de Oliveira. Com esta canção ganhou o primeiro lugar, o que lhe permitiu representar o país em Madrid, no 14º. Festival da Canção da Eurovisão. Em 1971 repete o êxito de 1969, conquistando o primeiro lugar com a canção Menina, interpretada por Tonicha. Seguem-se gravações com Carlos do Carmo(Opus 71), Cantigas de Amor, com Natália Correia e Amália Rodrigues; José Régio, dito por Ary dos Santos. Com Maria Tereza Horta organiza e publica a antologia Cancioneiro da Esperança. Em 1972 é editada a obra Resumo, onde, em apêndice, para além de poemas publicados anteriormente, vem o poema "Poeta Castrado, Não!", que é tido como uma das suas maiores afirmações, de que publicamos o excerto: ("...Serei tudo o que disserem/ Por temor ou negação:/ Demagogo mau profeta/ Falso médico ladrão/ Prostituta proxeneta/ Espoleta televisão./ Serei tudo o que disserem/ Poeta castrado, não!" Em 1973, ganha pela terceira vez o Festival RTP da Canção, com a canção Tourada, interpretada por Fernando Tordo. A obra poética de Ary dos Santos é imensa, sendo considerado o poeta português mais ouvido(nove livros de poemas e cerca de 600 canções). Os seus "retratos", com os poemas "A Bruxa", "O Burguês" e "O Bombista", foram recitados por todo o País, que o Ary correu como poeta e declamador, oferecendo, por inteiro, essas capacidades ao partido em que militava, o PCP, sendo dessa intervenção política poemas como "O Futuro", "O Ser Comunista" e "As Portas que Abril Abriu" - "...Agora que já floriu/ A esperança na nossa terra/ As portas que Abril abriu/ Nunca mais ninguém as cerra," - e tantos outros, que o povo português bem conhece. Ary foi o poeta da comoção até ao grito, o poeta que amava o futuro. Cantaram-no Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Carlos do Carmo, Amália Rodrigues, Fernando Tordo, Paulo de Carvalho, e muitos outros. "A poesia é a maneira de falar com o meu povo - pesquisa, luta, trabalho e força" - foi esta a concepção de poesia definida pelo Ary, numa entrevista a Baptista-Bastos. "Da terra de Abril que semeaste de esperança, os teus companheiros e camaradas colhem os cravos vermelhos de saudade e de ternura".

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