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A nossa solidariedade com António Tabucchi
No centro de Roma, manifestaram-se hoje dezenas de milhar de pessoas para exigir a demissão do chefe do governo italiano Silvio Berlusconi. Entre os manifestantes, contavam-se artistas, actores e escritores, como Dario Fo, Nobel da Literatura. Em Lisboa e em várias outras capitais europeias, realizaram-se manifestações semelhantes. Em Itália, há uma forte oposição às politicas berlusconianas, que tende a agravar-se perante as medidas neoliberais do poder. A própria liberdade de imprensa e de expressão, que tem vindo a ter um papel importante contra os abusos de poder, está a ser bloqueada para desencorajar aqueles que ousam provocar e desassossegar, como se esse não seja o dever dos indivíduos livres e responsáveis perante as mentiras e as imposturas de um poder autocrata. Exemplo desse abuso e sofisma de poder é a exigência que está a ser feita ao escritor italiano António Tabucchi, ex-embaixador da Itália em Portugal, da quantia milionária de 1.350.000 euros pelo crime - pasme-se! - de ter interpelado Schifani, presidente do Senado italiano e figura central do poder berlusconiano, num artigo publicado no jornal "Unità", sobre o seu passado, as "suas relacões negociais e andanças duvidosas", como se interrogar o itinerário, a carreira e a biografia de um alto responsável público não fizesse parte da intervenção legítima na vida democrática. Dada a escolha de um escritor que não renuncia a exercer a sua liberdade - e pela astronómica soma reclamada - fica claro que o objectivo é intimidar uma consciência crítica e, com isso, calar várias vozes. Não é de estranhar, portanto, que milhares de cidadãos juntem a outras razões este violento ataque à liberdade de expressão, não ficando indiferentes à ofensiva do poder berlusconiano contra a liberdade de julgar, criticar e interpelar. Também intelectuais portugueses lançaram uma petição de solidariedade com Tabucchi, a qual subscrevemos plenamente.
Nota: Tabucchi é um profundo conhecedor da obra de Fernando Pessoa, sendo um dos seus melhores tradutores. Professor de Língua e Literatura Portuguesa, na Universidade de Siena, é titular de uma apreciável bibliografia, tendo sido alguns dos seus livros levados ao cinema, com destaque para "Sostiene Pereira"(Afirma Pereira, na tradução portuguesa), onde Marcello Mastroianni teve uma das suas últimas interpretações, antes da sua morte.
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