sexta-feira, 31 de julho de 2009

Para que a memória não se apague, recordemos Zeca Afonso







Faz hoje 80 anos que Aveiro se fez berço de um dos principais precursores do canto de intervenção em Portugal… A 2 de Agosto de 1929, nasceu Zeca Afonso, nome incontornável da música portuguesa.
Tendo começado a sua participação musical pelo fado de Coimbra, tornou-se amigo de António Portugal e Luís Goes, gravando 3 discos entre 1953 e 1956 com temas de autores diversos ( António Menano, Carlos Figueiredo, Ângelo Araújo, Tavares de Melo, Paulo de Sá, entre outros).
A sua preocupação com os problemas que afectavam o país empurram-no para uma participação social e académica activa e, em 1952, faz parte da lista das “esquerdas” para a eleição da AAC(Associação Académica de Coimbra).
Em 1955, acabada a tropa, Zeca Afonso, com família já constituída, abandona Coimbra e dedica-se ao ensino, no Continente, até 1964 e em Moçambique, até 1967. O contacto com estas realidades completamente diferentes foram relevantes para a evolução que progressivamente foi marcando o seu percurso musical.
Em 1960, Zeca Afonso parte para uma fase nova da sua carreira musical que ficou marcada pela “Balada de Outono”. Esta mudança é justificada pelo próprio quando afirma que “ Designei as minhas primeiras canções por baladas, não porque soubesse exactamente o significado deste termo, mas para as distinguir do fado de Coimbra, que comecei por cantar e que, quanto a mim, atingira uma fase de saturação.”
Escolhida a nova orientação, Zeca Afonso, agora acompanhado por Rui Pato, torna-se num produtor de qualidade ( três EP, três LP e um single) num total de 49 temas. É então que, em 1969,em plena crise académica, é proibido pela PIDE de sair do país para ir gravar em Londres o álbum “Traz Outro Amigo Também”.
A sua obra, resultante da sua própria produção poética, da instrumentalização de textos poéticos de outros autores e do tratamento de temas da música tradicional portuguesa, é um grito de revolta contra as injustiças, um apelo à paz e à fraternidade.
Colocando a arte de cantar ao serviço das causas nobres e da luta contra a ditadura, marcou e continua a marcar gerações com temas inesquecíveis como “Os Vampiros”, “Menino do Bairro Negro”, “Menina dos Olhos Tristes”, “Vejam Bem”, “ Canta Camarada, Canta”, “Verdes são os Campos”, “Maria Faia”, e “Grândola Vila Morena” que, como se sabe, foi a senha da Revolução do 25 de Abril.
Apanhado muito novo pela doença, Zeca Afonso morre a 23 de Fevereiro de 1987, com apenas 57 anos, quando ainda muita coisa teria para nos dar.


Fonte: Eduardo M. Raposo, “Canto de Intervenção”, edição Jornal “Público”

( Texto de Maria de Lurdes Cunha, professora)

5 comentários:

  1. É sempre com emoção que ouço Zeca Afonso. Os homens da minha geração, e principalmente aqueles que se envolveram na luta contra o fascismo, conhecem como ninguém a influência das canções do Zeca(e também do Adriano Correia de Oliveira e outros)no desenvolvimento dessas lutas. Em Riba de Ave, onde muitos operários participaram na oposição ao regime da ditadura, ninguém esquece o dia em que o Zeca viria a Riba de Ave cantar e foi impedido pela PIDE de saír do avião, no Porto, sendo obrigado a regressar a Lisboa. Riba de Ave foi nesse dia uma terra sitiada, com dezenas de GNR vindos de fóra, para cercar a terra e não deixar ninguém transitar. O fascismo tinha perante tudo esta acção repressiva. Recordar Zeca Afonso é regressar à memória do tempo do fascismo, que o 25 de Abril baniu.

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  2. Cunha: estou emocionado. Sem surpresa, porque te conheço,estremeci com a memória do Zeca e o bonito texto da prof. Maria de Lurdes, que julgo ser a tua filha. Gosto de dar uma espreitadela ao teu blogue, mas hoje e a esta hora, algo me puxou para ir vê-lo. A força do Zeca, mais presente hoje do que nunca. Um abraço. Espero comentar alguns temas, mas aguardo que as coisas aqueçam mais um pouco.

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  3. Zeca Afonso foi um artista sempre solidário com as aspirações dos povos à libertação, e a sua música e poemas foram divulgados em diversos países. Na Galiza houve sempre uma ligação muito particular ao cantor-militante. Foi na Galiza, em Santiago de Compostela, a 10 de Maio de 1972, que o Zeca cantou pela 1ª.vez em espectáculo a "Grândola Vila Morena". No blogue galego http://www.blogoteca.com/desons/index.php?cod=151
    podem ouvir-se várias versões dessa memorável canção. Vale a pena ouvir. Um abraço para ti.

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  4. Riba de Ave deve homenagear Zeca Afonso por tudo aquilo que nos ensinou, mas também pela sua vontade em vir à nossa terra cantar, para todos aqueles que defendiam a liberdade e a queda do regime fascista.
    Lamentavelmente Riba de Ave ainda não teve tempo para fazer essa homenagem dando simplesmente o nome do Zeca a uma rua da Vila. Enquanto isso os actuais autarcas tiveram a "coragem" de retirar do salão nobre do edificio da junta de freguesia a placa evocativa do 25 de Abril "O POVO É QUEM MAIS ORDENA DENTRO DE TI O CIDADE". Substituindo este tema que o zeca cantou pelo país fora, pelo nome dos presidentes da junta que governaram Riba de Ave no tempo do fascismo.

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  5. Acabei de ler o comentário do Adelino Mota sobre o Zeca Afonso. Como deixei Riba de Ave há muitos anos, escapam-me pormenores como o que ele denuncia. Então os responsáveis da autarquia de Riba de Ave retiraram a placa que o povo colocou como homenagem à Revolução de Abril e substituiu-a por outra com os nomes dos autarcas do tempo da noite negra da ditadura? Essa é de mais! Atitudes como esta ( infelizmente, repetidas em muitas outras regiões do país - lembremos Santa Comba Dão - só são possíveis porque, cada vez mais se procura branquear a imagem dos ditadores e diluir a importância de Abril.
    Mas, com as próximas eleições autárquicas, os Ribadavenses podem dar os passos necessários para lembrar a esses senhores que, quer queiram quer não, o POVO É QUEM MAIS ORDENA, exercendo com inteligência o seu direito soberano de votar... BEM.

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