Faz hoje 80 anos que Aveiro se fez berço de um dos principais precursores do canto de intervenção em Portugal… A 2 de Agosto de 1929, nasceu Zeca Afonso, nome incontornável da música portuguesa.
Tendo começado a sua participação musical pelo fado de Coimbra, tornou-se amigo de António Portugal e Luís Goes, gravando 3 discos entre 1953 e 1956 com temas de autores diversos ( António Menano, Carlos Figueiredo, Ângelo Araújo, Tavares de Melo, Paulo de Sá, entre outros).
A sua preocupação com os problemas que afectavam o país empurram-no para uma participação social e académica activa e, em 1952, faz parte da lista das “esquerdas” para a eleição da AAC(Associação Académica de Coimbra).
Em 1955, acabada a tropa, Zeca Afonso, com família já constituída, abandona Coimbra e dedica-se ao ensino, no Continente, até 1964 e em Moçambique, até 1967. O contacto com estas realidades completamente diferentes foram relevantes para a evolução que progressivamente foi marcando o seu percurso musical.
Em 1960, Zeca Afonso parte para uma fase nova da sua carreira musical que ficou marcada pela “Balada de Outono”. Esta mudança é justificada pelo próprio quando afirma que “ Designei as minhas primeiras canções por baladas, não porque soubesse exactamente o significado deste termo, mas para as distinguir do fado de Coimbra, que comecei por cantar e que, quanto a mim, atingira uma fase de saturação.”
Escolhida a nova orientação, Zeca Afonso, agora acompanhado por Rui Pato, torna-se num produtor de qualidade ( três EP, três LP e um single) num total de 49 temas. É então que, em 1969,em plena crise académica, é proibido pela PIDE de sair do país para ir gravar em Londres o álbum “Traz Outro Amigo Também”.
A sua obra, resultante da sua própria produção poética, da instrumentalização de textos poéticos de outros autores e do tratamento de temas da música tradicional portuguesa, é um grito de revolta contra as injustiças, um apelo à paz e à fraternidade.
Colocando a arte de cantar ao serviço das causas nobres e da luta contra a ditadura, marcou e continua a marcar gerações com temas inesquecíveis como “Os Vampiros”, “Menino do Bairro Negro”, “Menina dos Olhos Tristes”, “Vejam Bem”, “ Canta Camarada, Canta”, “Verdes são os Campos”, “Maria Faia”, e “Grândola Vila Morena” que, como se sabe, foi a senha da Revolução do 25 de Abril.
Apanhado muito novo pela doença, Zeca Afonso morre a 23 de Fevereiro de 1987, com apenas 57 anos, quando ainda muita coisa teria para nos dar.
Fonte: Eduardo M. Raposo, “Canto de Intervenção”, edição Jornal “Público”
( Texto de Maria de Lurdes Cunha, professora)