Mãe:
Que desgraça na vida aconteceu,
Que ficaste insensível e gelada?
Que todo o teu perfil se endureceu
Numa linha severa e desenhada?
Como as estátuas que são gente nossa
Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito.
Presença cinzelada em pedra dura,
Que não tem coração dentro do peito.
Chamo aos gritos por ti - não me respondes.
Beijo-te as mãos e o rosto - sinto frio.
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.
Mãe:
Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim!
Miguel Torga, in "Diário IV"
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
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Este belíssmo poema do grande Miguel Torga remete cada um de nós para um dos momentos mais intimistas e avassaladores das nossas vidas:o desaparecimento físico da nossa origem primeira - A MÃE.
ResponderEliminarNeste dia, acompanho o meu pai, autor deste blog, na linda homenagem que faz à sua mãe e minha avó, que nos deixou em 25 de Novembro de 1975.