Os países da Europa estão preocupados com o envelhecimento da população. Os activos, dizem, não estão a ser suficientes para pagar as reformas. O discurso oficial sobre o problema é torrencial, mas no essencial diz-nos quase sempre a mesma coisa. Com o rápido aumento da esperança média de vida, o peso dos inactivos sobre os ombros dos activos está em vias de aumentar de forma insustentável, o que obrigará a rever urgentemente em baixa as normas do sistema de reformas. Depois, o que importa não é viver mais, mas viver em melhor estado, sendo portanto a questão mais pessoal que social. Esta maneira de analisar o problema pretende afirmar que envelhecer bem é um assunto estritamente pessoal, sobre um fundo de aceitação de um declínio inexorável, e são apresentadas mesmo "receitas" para um bom envelhecimento, que "é coisa que se aprende", como escreve a revista Psychologies(França), de Outubro passado. Não é este o lugar próprio para analisar as limitações individualistas de uma tal concepção, que aliás saltam à vista, quando omite o leque das actividades sociais capazes de serem desenvolvidas pela transmissão de saberes e de experiências profissionais, novas aprendizagens, participações múltiplas de voluntariado na vida pública, envolvimento em actividades criativas de toda a espécie. Segundo esta teoria, o "sénior" seria, na sua essência, um inactivo social - concepção carregada de ameaças, já que alimenta socialmente a ideia cínica segundo a qual as pessoas da "terceira idade" seriam bocas inúteis para a colectividade, que deveriam portanto, cada vez mais, pagar a si mesmas a sua reforma. Uma tal visão só erradamente se socorre da curva biológica da vida - crescimento, estagnação, declínio - para se afirmar como evidência. O que é uma vida? A resposta a esta pergunta levar-nos-ia a discutir Simone de Beauvoir, Lucien Lévy-Bruhl e outros sociólogos e académicos, e Karl Marx. Aquilo que agora mais nos interessa é a crítica social. É que, paradoxo extraordinário, enquanto que desde os anos setenta, se ganharam dez anos de esperança de vida média, a esperança de vida profissional, pelo contrário, diminuiu doze anos ou mais. Na maioria das empresas é-se considerado velho a partir dos 40 anos, o que as leva, portanto, a desembaraçar-se deles através de vários meios, que vão da pré-reforma ao despedimento. Para muitos milhares de trabalhadores, o fim da vida profissional torna-se um pesadelo, e a reforma, com esta concepção, aparece sob muito maus augúrios. A gravidade deste drama social e humano não está, de facto, a ser avaliada. A crise actual não é apenas financeira, económica, social e ecológica. O género humano está ameaçado nos seus valores e na sua existência civilizacional, pela lógica implacável que faz de qualquer actividade uma mercadoria que ou é rentável ou se pode deitar fora. Amanhã haverá milhões de reformados: em que estado vão estar se, na maioria dos casos, esperaram anos por um primeiro emprego decente e, depois, conheceram uma vida de trabalho mais ou menos alienada, que termina cedo com uma reforma reduzida em todos os planos? A degradação acelerada da vida das pessoas será menos grave do que o degelo polar? Não nos ameaça com cataclismos igualmente devastadores? Para mudar a vida da maioria das pessoas que criam as riquezas de que outros beneficiam, é necessário criar as condições de uma muito maior eficácia social, que gere uma nova felicidade humana; abandonar as soluções nos termos da discriminação devido à idade, já que verdadeiramente, do que se trata, é de organizar socialmente o futuro dos "reformados", pondo de lado a ideologia liberal do Homo economicus. Ora, isso implica oferecer a todos formação inicial capaz, acabar com o desemprego dos jovens, desalienar o trabalho, organizar a continuidade segura do emprego, passar de um tempo livre pouco aliciante a uma vida enriquecedora fora do trabalho, favorecer ao máximo a preparação dos quinquagenários para a sua vida pós-profissional e, finalmente, consolidar um sistema valorizado na base de uma justa redistribuição da riqueza.
Fonte: Sobre o artigo "O QUE É ENVELHECER BEM?", de LUCIEN SÈVE (Le Monde diplomatique)
"Combata a pobreza, mate um mendigo!" - então não foi esta a frase rabiscada num muro da cidade de La Paz? Com estes cretinos, que lhes importa a situação dos reformados? O mundo está ordinário com a direita(de muitos rostos)no poder... Que faz o PS do Sócrates? Só tachos e mãos sujas. Iremos algum dia alterar isto?
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