O fascismo proibia a comemoração da data histórica de 31 de Janeiro. Mesmo com a "primavera" marcelista, que arrefeceu cedo, as datas emblemáticas da República(31 de Janeiro e 5 de Outubro) não podiam ser comemoradas. Só o foram muitas vezes devido à tenacidade da Oposição ao regime do Estado Novo, mesmo custando essa resistência perseguições de toda a ordem, pois a PIDE vigiava e espiava todos os movimentos dos oposicionistas. Na imensa documentação que foi possível fotocopiar nos arquivos da Torre do Tombo e Governos Civis, existem inúmeros documentos da PIDE, da PSP e GNR, das Câmaras Municipais e Governos Civis, que espelham a actuação repressiva do fascismo quer através do aparelho policial quer pela via das instituições administrativas, que aceitavam servir o regime dessa forma ominosa. Não nos é possível publicar aqui, devido a razões técnicas que não superamos, como era nossa intenção, um documento retirado dentre as muitas dezenas que obtivemos nos arquivos do Governo Civil de Braga, que testemunha a vigilância que a PIDE exercia sobre os democratas, e neste caso referindo-se exactamente ao 31 de Janeiro de 1969, na fria primavera marcelista. Tencionamos publicar dentro de algum tempo um dossier de toda essa documentação extraída dos arquivos oficiais, e por ela os nossos seguidores poderão ver como a PIDE e o fascismo teve os olhos voltados para Riba de Ave e muitos oposicionistas.
Assim, só publicamos a capa de um opúsculo - talvez raro hoje - do discurso proferido no Teatro Aveirense, em 31 de Janeiro de 1969, por Mário Sacramento, médico e comunista prestigiado entre a Oposição ao regime. Do seu discurso, apenas este excerto:..."Mudar de feitor não é transformar as estruturas, de modo a tornar impossível a perpetuação do logro. Onde or privilégios económicos subsistem, os direitos políticos não estão enraizados e podem ser coarctados sem dificuldade. A política não é mais do que a cúpula do edifício societário. Pode ser pintada de mikl maneiras, mas não deixa por isso de fazer corpo com as paredes que a sustentam". Mário Sacramento falava em 1969. E como é hoje?
Ensaísta português, nascido em Ilhavo em 1920 e falecido em 1969. Tendo frequentado as Faculdades de Medicina de Coimbra, Porto e Lisboa, especialozou-se em Gastrenterologia em Paris. De formação marxista e neo-realista, participou no Movimento de Unidade Democrática e foi o impulsionador do I Congresso Republicano de Aveiro de 1957. Com uma atitude crítica e exigente, colaborou em jornais, revistas e páginas literárias, tendo publicado diversas obras. Em 7 de Abril de 1967 escreveu e fechou em envelope, só aberto após a sua morte, uma carta que correu mundo. É dela o seguinte excerto: "...Nasci e vivi num mundo de inferno. Há dezenas de anos que sofro, na minha carne e no meu espírito,o fascismo. Recebi dele perseguições de toda a ordem - físicas, económicas, profissionais, intelectuais, morais. Mas que não as tivesse sofrido, o meu dever era combatê-lo. O fascismo é o fim da pré-história do homem. E procede, por isso, como um gangster encurralado. Fiz o que pude para me libertar, e aos outros, dele. É essa a única herança que deixo aos meus filhos e aos meus companheiros. Acabem a obra! Derrubem o fascismo, se nós não o pudermos fazer antes. Instaurem uma sociedade humana! promovam o socialismo, mas promovam-no cientificamente, sem dogmatismos sectários, sem radicalismos pequeno-burgueses! Aprendam com os erros do passado, e lembrem-se que nós, os mortos, iremos, nisso, ao vosso lado. Não veremos o que quisemos, mas quisemos o que vimos. E este querer é um imperativo histórico. Há milhões de mortos a dizer-vos: avante! Façam o mundo melhor, ouviram? Não me obriguem a voltar cá!"
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