"São os Estados Unidos reformáveis?" É esta a interrogação deixada por Serge Halimi , no artigo que escreve no último número do LE MONDE diplomatique. O Presidente Obama completa hoje o primeiro ano na Casa Branca, com uma das mais baixas taxas de aprovação. Em Novembro de 2008, Obama foi eleito por uma percentagem de votos superior à de Reagan nas eleições de 1980. Obama pôde então dizer que tinha um "mandato". Ele mobilizou os jovens, os negros, os hispânicos e uma fracção alta do eleitorado branco. A derrota dos republicanos foi completa. O discurso inaugural foi de esperança: "Hoje, os desafios que nos esperam são imensos. Não vão ser resolvidos de modo fácil, nem rápido. Mas quero que saibam isto, América: vão ser resolvidos". É verdade que Obama herdou duas frentes de guerra, uma economia em colapso e o prestígio do país pelas ruas da amargura. 365 dias passados desde a investidura, os americanos brindam-no com uma das mais baixas taxas de aprovação na história dos presidentes no final do seu primeiro ano na Casa Branca. Os graves problemas deixados pela administração de Bush não foram resolvidos e alguns estão hoje mesmo agravados. Obama esperava que a fracção mais razoável dos republicanos se conciliasse com ele para tirar o país da situação dificil em que se encontra, e estendeu-lhe a mão. Mas foi em vão. Ao contrário do que pensava, os republicanos não tinham decidido abandonar as rédeas do poder na eleição presidencial de 2008. Tinham, sim, sido expulsos do poder pelo povo, o que altera profundamente a formulação de Obama, ao comentar a recusa de colaboração dos republicanos às suas propostas. Que esperava Obama? Já em 1951, um democrata, Harry Truman, tinha ocupado a Casa Branca. Dedicou-se à luta contra o comunismo e a União Soviética, à defesa do império e aos lucros da General Electric . Mas apesar disso foi considerado traidor por uma importante parte do eleitorado republicano, que chegou ao ponto do senador McCarthy ter afirmado que "uma conspiração tão infame, quando for desvendada, merecerá ser amaldiçoada para todo o sempre pelos homens honestos", levando a que nos quatro anos seguintes, em todo o país, o senador do Wisconsin aterrorizasse progressistas, artistas e sindicalistas, mas também os principais responsáveis do Estado, incluindo militares. Hoje, o ar encontra-se de novo viciado pela paranoia dos militantes de direita, levada ao rubro pelos talk shous na rádio, pela "informação" contínua da Fox News, pelos editoriais do Wall Street Journal, pelas igrejas fundamentalistas, pelos boatos delirantes que a Internet carreia. Um tal alarido invade a mente das pessoas e não as deixa pensar noutra coisa. Milhões de americanos estão a ser convencidos que o presidente mentiu a respeito do seu estado civil, que nasceu no estrangeiro, que era ilegível, e juram que a sua vitória, apesar de haver sido obtida graças a oito milhões e quinhentos mil votos acima do seu adversário, resulta de uma fraude, de uma "conspiração imensa...". Estes batalhões de gente que vive no paroxismo da excitação, constituem o elemento central do Partido Republicano, mantendo sob sua influência os eleitos com os quais Obama pretendia negociar a sua política de retoma, a sua reforma dos seguros de saúde, a regulamentação das finanças. São os Estados Unidos reformáveis? Afirma-se que o seu sistema se caracterizaria pelo "equilibrio dos poderes", mas, na realidade, ele consiste numa multiplicação de escalões onde reina o dólar. A tirania das estruturas é muito forte, sobretudo quando a oposição se mostra histérica e o "movimento popular" se resume a sindicatos liquifeitos e bloguistas enfatuados que crêem que o militantismo se expande ficando atrás de um teclado. A biografia de Obama criou um equívoco. Por um lado, por ter concentrado na sua pessoa todas as atenções e expectativas. Por outro, porque este presidente dos Estados Unidos já nada tem a ver, desde há muito tempo, com o adolescente radical por ele próprio descrito nas suas Memórias. Com o jovem que assistia a conferências socialistas e que trabalhava em Harlem com uma associação próxima de Ralph Nader. Também já nada tem a ver com o militante afro-americano que, "para evitar ser tido como um traidor, seleccionou cuidadosamente os seus amigos, os estudantes negros mais activistas, os estudantes estrangeiros, os chicanos, os professores marxistas, as feministas estruturalistas e os poetas punk rock, e à noite, nos dormitórios, discutiamos sobre neocolonialismo, Frantz Fanon, etnocentrismo europeu e patriarcado". No fim de contas, fala-se demais de Obama. Este homem adquiriu as feições de um demiurgo, que as pessoas julgam capaz de dominar as forças sociais, as instituições, os interesses. Um pivô da rádio, o ultraconservador Rush Limbaugh, replica que alguns defensores de Obama o tomam pelo Messias. Tem razão. Mas por que motivo continua então a denunciar todos os dias o Anti-Cristo? No fundo, o "milagre" da eleição de Novembro de 2008 poderá consistir em lembrar-nos que os milagres não existem. E que o destino dos Estados Unidos, tal como o dos outros países, não se confunde nem com a personalidade de um homem, nem com a vontade de um presidente.
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
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É por isso que Obama perdeu agora as eleições em Massachusetts, pondo em risco as decisões do Senado. Será que vai aprender a lição? Esperemos que sim, de contrário estaremos tramados. Se calhar ainda não leu "As Veias Abertas da América Latina", do Eduardo Galeano e que o Chavez lhe ofereceu. Que leia, que pelos vistos bem precisa...
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