Passam hoje 30 anos sobre a posse de José Eduardo dos Santos como chefe de Estado de Angola, o que faz dele um dos líderes há mais tempo no poder, em todo o mundo. José Eduardo dos Santos sucedeu a Agostinho Neto, o líder carismático angolano, que dirigiu a luta armada do MPLA contra os colonizadores portugueses e era considerado um dos maiores líderes africanos. Após a morte de Agostinho Neto, em 1979, o actual líder angolano foi designado para ocupar o lugar de presidente da República da então RPA, com o país a braços com uma guerra fraticídia violenta, alimentada pelos grandes interesses do capitalismo internacional, que tinham no apartheid da África do Sul um aliado de peso. Herdou um país destroçado pela guerra civil, que se estima ter sido responsável por um milhão de mortos e dois a quatro milhões de deslocados. Em bom rigor, e com excepção de um pequeno período de cessar-fogo após os acordos de Bicesse de 1991, Angola só começou a viver em paz a partir de 2002, na sequência da morte de Jonas Savimbi, em 22 de Fevereiro, e da capitulação da Unita como força beligerante. Foram, pois, 27 anos de uma guerra sangrenta, que deixou o país destruido e a braços com problemas e dificuldades gravíssimos, desde uma população em estado de pobreza extrema e milhares de estropiados, até aos riscos de milhares e milhares de minas, que impossibilitavam a exploração de grande parte do território. Assinado o acordo de paz em 4 de Abril de 2002, o país iniciou passo a passo a caminhada para a pacificação e a recuperação da sua economia, num cenário de relações externas substancialmente diferentes das que tinham havido até aí. No ano passado, o MPLA venceu as eleições legislativas por um resultado esmagador(82%.), resultado fiscalizado pela comunidade internacional, que considerou todo o processo eleitoral legal e democrático. O país vive hoje numa democracia pluripartidária, com diversos partidos a figurarem no seu espectro político. Passados 30 anos da posse como chefe do Estado angolano, José Eduardo dos Santos dirige hoje um país que deu passos extraordinários no caminho do desenvolvimento e cuja economia exibe índices de crescimento, que são considerados notáveis. Há quem conteste a democracia angolana, que alguns dizem estar ainda longe de poder ser considerada insuspeita, designadamente ao nível da liberdade de expressão. Na Europa, temos a tentação de olhar África pelos nossos figurinos ocidentais, eles próprios a deixarem muito a desejar. E isso é um erro. A democracia em África e nomeadamente em Angola, é um processo inteiramente distinto do nosso, e só os africanos poderão torná-lo progressivamente consistente e maduro. Conhecemos alguma coisa de Angola. Por motivos familiares, já algumas vezes visitámos o país angolano e percorremos algumas das suas cidades. Conhecemos alguns dos seus órgãos de comunicação social, que recebemos regularmente, enviados por jornalistas amigos; temos também relações de grande amizade com alguns dos seus melhores escritores, cuja obra literária conhecemos bem; e, em boa medida, conhecemos o seu povo, os seus problemas e dificuldades, os seus anseios e esperanças; sonhos, medos e críticas, muitas críticas. Mas haverá país onde tais sentimentos não perturbem hoje o dia-a-dia dos povos? É esse conhecimento próximo, quase vivencial, dos problemas de Angola, que nos leva a esta visão confiante do seu futuro, pese embora as enormes dificuldades que o povo angolano tem pela frente e das quais, ele próprio, melhor do que ninguém, tem plena consciência. Mesmo a propósito, da revista "África 21", número de Setembro, que acabo de receber, retiro este parágrafo do artigo assinado pelo seu director, também nosso amigo, João Melo: "...o grande desafio é, sem dúvida, como fazer avançar o nosso país, não apenas no plano económico, mas também social e político, mantendo a estabilidade tão dificilmente conquistada pelos angolanos. A futura Constituição, mais do que a eleição imediata do Presidente, será uma peça crucial para atingir esse objectivo, com a participação de todos, Governo, oposição e sociedade civil". Ter de Angola a visão de décadas atrás é uma visão errática. Ficaram pelo caminho muitas ilusões e sonhos? Pois ficaram! Mas Angola é hoje um país respeitado internacionalmente. E com boa fé, ninguém pode negar que José Eduardo dos Santos, e o MPLA, deram um contributo valioso para este salto incontornável da imagem do país.
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